Matutas e Matreiras
Sou
natural de Nova Friburgo-RJ, e, como toda moça de origem pobre, trabalhei desde
cedo; fui empregada doméstica, tecelã e finalmente vendedora no comércio local.
Era muito bom o ambiente em que trabalhávamos; as conversas enquanto não havia
cliente eram das mais variadas, além é claro dos conhecimentos que fazíamos com
outras pessoas.
Aos dezenove anos fui trabalhar numa loja em que a
equipe de vendedores, era compostas só por mulheres, homem lá, só para
gerenciar e para pegar peso, pois era uma loja de tecidos. Entre as inúmeras
amizades que travei por lá, tinha a Néia que morava sozinha e era um pouco mais
velha que eu. Aprontávamos muito, tipo beber um conhaque no frio para
esquentar, íamos para Lumiar quando ainda era desconhecido da mídia e
aprontávamos um bocado, principalmente quando era dia de velório, pois era lá que os solteiros
aproveitavam para paquerar, ficávamos moças e rapazes sentados conversando. No
meio de sapos que apareciam à noite a passear pela rua. Tínhamos amigos
motoqueiros e passeávamos por tudo que era canto, sempre com interesse no cara
e na XL dele.
Mas a aventura que mais me marcou foi a minha vida
com Néia foi um final de semana em Niterói-RJ. Não foi uma viagem qualquer; Néia me
convidou para irmos para casa de parentes dela que moravam lá. Arrumei as
malas, avisei à mamãe e descemos a Serra. Era para ser assim, mas, no meio do
caminho minha amiga disse que havia
esquecido o endereço dos seus parentes. E agora? O que fazer? Contamos a “grana”
e vimos daria para ficar num hotel simples. O fato é que quando chegamos à Rodoviária não tínhamos a mínima noção de
onde poderia haver um hotel. Perguntamos a um vigilante que nos indicou um
daqueles hotéis próximos á Rodoviária. Partimos em busca e no meio do caminho
vimos que estávamos sem documento algum. Mas era imperativo que achássemos uma
acomodação pois já era noitinha, então entramos no primeiro hotel que nos
apareceu e fizemos a ficha, dedinhos cruzados para que nos aceitassem sem
documentos e realmente não exigiram nada, só fizeram uma ressalva: que a diária
terminaria no domingo ás 12;00h.
Subimos uns degraus e chegamos ao quarto que era
simples, mas ventilado e amplo. Ficamos muito tempo conversando quando ela me
disse que não tinha parente nenhum em Niterói, queria só uma aventura.Fiquei
pasma mas me segurei, para que ela não pensasse que eu era medrosa. Não saímos
por medo de ser abordadas por policiais e até mesmo com medo de assalto. Já era
bem tarde quando ouvimos uma música ao longe e fomos para a janela para ver. Era
um clube próximo que em que estava havendo um baile, e era tudo o que queríamos,
mas, fomos obrigadas a ficar quietinhas se quiséssemos aproveitar o fim de
semana.
Acordei disposta e chamei Néia que se espreguiçava na
cama, para procurarmos onde servia o café da manhã. E ela com pose de princesa disse que esperaria no quarto
,pois nas novelas era assim.Não dei ouvidos a ela e desci, encontrando um salão onde o café era servido e sem nenhuma
pompa; café, leite, refresco pão na manteiga.era um hotel que hospedava
viajantes e trabalhadores da construção civil.È claro que comi e fui para o
nosso quarto alertar á princesa de plantão onde ficava o café. Rumamos de lá
para a Rodoviária e deixamos a nossa bagagem no guarda-volumes; depois fomos
para a praia. No primeiro ônibus rumo para Icaraí embarcamos e passamos o dia
debaixo daquele sol escaldante á milanesa
No
final do dia voltamos para a Rodoviária onde tomamos um banho; parecíamos dois
tomatões, tal o grau da queimadura, pois antigamente era comum usar bronzeador
sem filtro solar. Mas o mais importante estava cravado em nossos corpos: a
marquinha do biquíni. Com a pele ardendo subimos de novo a Serra para nos
exibirmos em Friburgo. E
não é que fomos à domingueira, com vestidos brancos, para mostrar que havíamos
viajado para os gatos da cidade. Não contamos a ninguém os detalhes da viagem e
ainda contamos vantagens para as nossas colegas de trabalho, que morreram de
inveja.
Tânia
Maria da Silva
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