quinta-feira, 22 de março de 2012

Viagem Insólita


Matutas e Matreiras


Sou natural de Nova Friburgo-RJ, e, como toda moça de origem pobre, trabalhei desde cedo; fui empregada doméstica, tecelã e finalmente vendedora no comércio local. Era muito bom o ambiente em que trabalhávamos; as conversas enquanto não havia cliente eram das mais variadas, além é claro dos conhecimentos que fazíamos com outras pessoas.
                Aos dezenove anos fui trabalhar numa loja em que a equipe de vendedores, era compostas só por mulheres, homem lá, só para gerenciar e para pegar peso, pois era uma loja de tecidos. Entre as inúmeras amizades que travei por lá, tinha a Néia que morava sozinha e era um pouco mais velha que eu. Aprontávamos muito, tipo beber um conhaque no frio para esquentar, íamos para Lumiar quando ainda era desconhecido da mídia e aprontávamos um bocado, principalmente quando era dia de  velório, pois era lá que os solteiros aproveitavam para paquerar, ficávamos moças e rapazes sentados conversando. No meio de sapos que apareciam à noite a passear pela rua. Tínhamos amigos motoqueiros e passeávamos por tudo que era canto, sempre com interesse no cara e na XL dele.
                Mas a aventura que mais me marcou foi a minha vida com Néia foi um final de semana em Niterói-RJ. Não foi uma viagem qualquer; Néia me convidou para irmos para casa de parentes dela que moravam lá. Arrumei as malas, avisei à mamãe e descemos a Serra. Era para ser assim, mas, no meio do caminho minha amiga  disse que havia esquecido o endereço dos seus parentes. E agora? O que fazer? Contamos a “grana” e vimos daria para ficar num hotel simples. O fato é que quando chegamos à  Rodoviária não tínhamos a mínima noção de onde poderia haver um hotel. Perguntamos a um vigilante que nos indicou um daqueles hotéis próximos á Rodoviária. Partimos em busca e no meio do caminho vimos que estávamos sem documento algum. Mas era imperativo que achássemos uma acomodação pois já era noitinha, então entramos no primeiro hotel que nos apareceu e fizemos a ficha, dedinhos cruzados para que nos aceitassem sem documentos e realmente não exigiram nada, só fizeram uma ressalva: que a diária terminaria no domingo ás 12;00h.
                Subimos uns degraus e chegamos ao quarto que era simples, mas ventilado e amplo. Ficamos muito tempo conversando quando ela me disse que não tinha parente nenhum em Niterói, queria só uma aventura.Fiquei pasma mas me segurei, para que ela não pensasse que eu era medrosa. Não saímos por medo de ser abordadas por policiais e até mesmo com medo de assalto. Já era bem tarde quando ouvimos uma música ao longe e fomos para a janela para ver. Era um clube próximo que em que estava havendo um baile, e era tudo o que queríamos, mas, fomos obrigadas a ficar quietinhas se quiséssemos aproveitar o fim de semana.
                Acordei disposta e chamei Néia que se espreguiçava na cama, para procurarmos onde servia o café da manhã. E ela com  pose de princesa disse que esperaria no quarto ,pois nas novelas era assim.Não dei ouvidos a ela e desci, encontrando  um salão onde o café era servido e sem nenhuma pompa; café, leite, refresco pão na manteiga.era um hotel que hospedava viajantes e trabalhadores da construção civil.È claro que comi e fui para o nosso quarto alertar á princesa de plantão onde ficava o café. Rumamos de lá para a Rodoviária e deixamos a nossa bagagem no guarda-volumes; depois fomos para a praia. No primeiro ônibus rumo para Icaraí embarcamos e passamos o dia debaixo daquele sol escaldante á milanesa
No final do dia voltamos para a Rodoviária onde tomamos um banho; parecíamos dois tomatões, tal o grau da queimadura, pois antigamente era comum usar bronzeador sem filtro solar. Mas o mais importante estava cravado em nossos corpos: a marquinha do biquíni. Com a pele ardendo subimos de novo a Serra para nos exibirmos em Friburgo. E não é que fomos à domingueira, com vestidos brancos, para mostrar que havíamos viajado para os gatos da cidade. Não contamos a ninguém os detalhes da viagem e ainda contamos vantagens para as nossas colegas de trabalho, que morreram de inveja.

Tânia Maria da Silva

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