Como educar para o resgate de identidade
e autonomia respeitando as diferenças do discente?
INTRODUÇÃO
Estamos em uma
época em se propaga muito a inclusão educacional e social no Brasil, onde a
mídia se encarrega com um discurso vazio, de que o preconceito em nosso país está sendo
combatido. Porém, na contramão deste discurso podemos perceber claramente na
publicidade, raras exceções, que as ditas minorias não constam como público
alvo da maioria das empresas, sendo que o preconceito está acontecendo sob nossas vistas no
cotidiano e na maioria das vezes ficamos de “braços cruzados”. Quando abordamos
este tipo de ignorância, que é conceituar uma pessoa, situação, doença,
comportamento, religião, etnia, entre outros, se nos aprofundarmos no assunto
veremos que as cometemos quase que diariamente.
E
é se aproveitando da ignorância é que alguns grupos ou pessoas nos acorrentam o
livre pensamento para que absorvamos suas idéias a respeito de algo ou alguém.
E acontece tão sutilmente que nem percebemos, pois nos falta conhecimentos de
nossas raízes, comportamentos sexuais, desconhecimento do próprio corpo, do
nosso mundo interior, exterior,
prevenção de doenças e outros tantos que podemos relacionar. Aproveitando o ditado popular: “em terra de cego quem tem
olho é rei”, podemos perceber que para iluminarmos as nossas mentes, precisamos
de conhecimento. Trabalho este em devemos nos engajar para a vida inteira, já
que o mundo está sempre mudando e a vida é dinâmica; o maior prazer para um
docente deveria ser sempre procurar mais e mais conhecimentos, e adaptá-los aos
seu dia-a-dia.
Toda
essa mudança na educação é possível, mas para formarmos cidadãos é necessário
amor à causa, tendo consciência de o
futuro está também e principalmente em nossas mãos. Pois para se resgatar
identidades é necessário muito mais que um belo discurso; é preciso respeito às
diferenças, exemplo na vida prática e muita humildade para caminhar ao lado do
aluno, para que ele conquiste a sua autonomia verdadeira. Temos que ter muito claro, qual é o nosso ideal. Queremos um
mundo melhor? Como podemos trabalhar com pessoas com suas singularidades e
respeitarmos as diferenças? Creio que ao
logo de nossas vidas, conseguiremos encontrar caminhos viáveis para chegarmos
perto das respostas.
Nós,
brasileiros, dito país em desenvolvimento, temos um sério problema educacional
a resolver, dada a nossa colonização, modelos educacionais importados da Europa
e que em dados momentos não se adequando aos nossos hábitos populares foram
adotados. Seguido de um cultura puramente elitista e voltada para o mercado,
onde ainda imitamos os outros países, que nada têm em comum com o nosso. Os
veículo de massa todos os dias teclam na cabeça do sujeito, com os ditames da
mídia a serviço do Capitalismo, tudo o que devemos fazer. Fala-se muito em paz
no mundo, porém se ligarmos a TV na hora das refeições, além do prato que
estaríamos degustando, engolimos tudo o que vemos e que ouvimos, e são muitos
cadáveres, balas perdidas e toda sorte de desgraça. É este mundo cão que
queremos preservar? Penso que não, e para isso é bom que estejamos sempre
atentos com os olhos de OLHAR e os ouvidos de OUVIR verdadeiramente.
Tânia Maria da Silva
1.2 Identidade em contexto multicultural
A
identidade do indivíduo está em constante processo de reconstrução; podendo ser
mudada de acordo com o contexto.. E através dos tempos, com muita luta por parte
de alguns sub-julgados, que no mundo evoluem, como homens que se atrevem a
escrever e mudar a sua própria história e a de seus pares. Desde o início da
vida em sociedade da raça humana na terra, onde se lutava cotidianamente pela
sobrevivência e perpetuação da espécie, passando pela dominação dos grandes
Impérios sobre outros povos, até o momento atual, em que se continua na “ARENA”, na condição de
expectador, ou dentro, mas, sempre
dentro dos alambrados lutando com
trogloditas ou sendo refém de “animais perigosos”. É o que se vê hoje no mundo;
constante ebulição social em alguns países orientais, com uma aparente trégua
nos países ditos em desenvolvimento.Mas, por trás de todo este cenário montado
pelo Imperialismo para continuar explorando os países “mais pobres”, que
estranhamente “despertam um interesse descomunal nos mais ricos”, ainda percebe-se
que os primeiros apesar de importarem comportamentos, ainda têm, mesmo que
“invisível,” um de subalterna rastro de
soberania.
Desse
modo o sujeito, queira ou não, apesar da mídia constantemente apregoar-lhe
espírito de bando, é forçado a pensar no seu papel na sociedade, voltando às
suas raízes e cada vez mais procurando identidade própria. O grande problema é
identificar, pois estamos a todo momento trocando informações e processando sem
saber ao certo se são íntimas, produto de reflexão, ou se são absorvidas pelo
meio e tomadas como pessoal. Na verdade ter identidade significa saber de onde
se veio, onde se encontra agora, e traçar objetivos para o futuro sem a
pretensão de ser o detentor da verdade, tendo em mente o processo de constante
reconstrução, respeitando a autonomia dos outros.
Observando
a história, veremos os vencidos e vencedores sempre; com o estigma que carregamos ainda hoje da competição
diária em todos os setores da vida mostrando como a sociedade ainda carrega
instintos selvagens. No Brasil ainda vemos os fortes resquícios de uma
aculturação vertical, imposta pelos brancos, que ainda hoje, com algumas
exceções, sentem-se superiores e no cume da pirâmide social. Se antes era pela
força, hoje vemos na mídia imagens, comportamentos, ditando a moda e outros movimentos
para assediar os incautos.
Em
passado bem próximo, o índio brasileiro viu a sua casa ser invadida, sendo espoliada por interesses estranhos; o
negro sendo removido de sua terra natal e arrastado aos porões de navios que
lhe ditavam a sorte.Aos rebeldes o destino era a morte e aos que capitularam
restou o ecoar das chibatadas constantes, restando pouco a fazer, a não ser a
cultivar a identidade dentro da senzala, enganando aos brancos com seus cultos
e danças, que se tornou uma forma de resistência.
Com toda essa tirania por parte de quem detinha o
poder, as culturas tribais foram negadas e relegadas à sarjeta, restando ao
povo alienação e a ignorância quanto às riquezas culturais Afro e Indígenas em
nosso país. Sendo estes, considerados cidadãos de segunda classe, sem direito
às raízes históricas, pois a versão oficial foi a do conquistador. História que
vêm mudando a passo de tartaruga, mas que já tem alcançado um lugar de destaque
nas consciências.
Terra- passado literalmente negro e um
futuro a se configurar
Como um educador pode abordar o assunto, inserção, em
turmas heterogêneas na sala de aula em pleno século XXI? Como falar para uma
criança sobre a barbárie que assolou o planeta? Com livros oficiais de
história? Seria suficiente? Por que ao som de um atabaque treme-se de medo e
pensa-se logo em macumba? Por que ainda vemos a ignorância comparar bagunça
generalizada com coisa de índio? Temos de repensar nosso mundo, nosso país,
nossa gente.
Dentro
desse contexto cultural podemos observar o discurso de do grande Educador Paulo
Freire no sentido de dar nomes às injustiças que ainda são praticadas por
muitos docentes. Ele diz; “... È preciso deixar claro que a transgressão da
eticidade jamais pode ser vista ou entendida como virtude: que alguém se torne
machista, racista, classista, sei lá o quê, mas se assuma como transgressor da
natureza humana. Não me venhas com justificativas genéticas, históricas ou
filosóficas para explicar a superioridade da branquitude sobre a negritude, dos
homens sobre as mulheres, dos patrões sobre os empregados. Qualquer
discriminação é imoral e lutar contra ela um dever por mais que se reconheça a
força dos condicionamentos a enfrentar. A boniteza de ser gente se acha, entre
outras coisas, nessa possibilidade e nesse dever de brigar...”
O filósofo e teólogo, Leonardo
Boff, relata em seu livro, A águia e a Galinha, a história do povo de Gana,
país Africano, que teve como líder, um político e educador popular, chamado
James Aggrey. Sua atuação foi imprescindível na época em que o povo africano,
na era colonização era disputado por países como Portugal e Inglaterra. James
fortaleceu significativamente à forte consciência de ancestralidade alimentada
pelo seu povo. Um sentimento de amor às raízes culturais que se opunha a todo o
massacre da colonização estrangeira, que considerava essa população como “zero
econômicos”, muito embora tivessem um grande interesse em seu território e na
exploração de sua força de trabalho. Processo semelhante também ocorreu no
século XVI com os indígenas da Amperica e com os subjulgados da Ásia.
Segundo
James “...Libertação significa ação que liberta a liberdade cativa. É só pela
libertação que os oprimidos resgatam a auto estima. Refazem a identidade
negada. Reconquistam a pátria dominada, e podem construir uma história
autônoma, associada à história de outros povos livres...” Porém James Aggrey,
que faleceu antes de ver o seu país liberto, deixou seu legado e em 6 de março
de 1957, N”Krumah e seu partido junto com o povo, conseguiram a independência
da Ingleterra voltando o país a se chamar Gana em vez de Costa D Ouro como
queriam os invasores.. Hoje a Nação conquistou inúmeras vitórias, e segundo
Boff: “ ...Se aplicarem os ideais de James Agrey, consolidarão sua identidade e
autonomia. E avançarão pouco a pouco no sentido de um concidadania
participativa e solidária.”
Outra
identidade que foi perseguida, espoliada, enganada, violentada, mal
interpretada, foi a dos índios em todo o mundo, pois além de perderam a sua
identidade ainda tinha de se sujeitarem a ser escravos dentro de sua própria
terra. Eram dominados sob pretexto de serem incultos, rebeldes e perigosos
entre outros atributos por parte da superioridade branca. No Brasil, a história
de nossos silvícolas se confunde e se perde com a história oficiais onde várias
tribos foram dizimadas quando consideradas “agressivas”, ou pacificada pela
Igreja Católica que “gentilmente” catequisa nossos ancestrais a título de
retomarem a sua alma. O fato é que nos anos de pacificação dos silvícolas,
muita aberrações foram cometida em nome de Deus e do bom senso.
Darcy
Ribeiro, nos fala sobre a tribo dos Urubus (significa moradores da mata):
“Pouco mais de 25 anos de convívio pacífico custaram aos índios Urubus cerca de
dois terços de sua população, vitimada, já não por trabucos, mas pelas
epidemias de gripe, sarampo, coqueluche e outras moléstias que assolaram suas aldeia.
Hoje eles estão tomando consciência do preço que custaram as ferramentas,
miçangas e os poucos outros bens que obtiveram dos civilizados, e voltaram-se
para o passado, que recordam como o bom tempo das grandes aldeias cheias de
gente, dos roçados enormes e fartos, da alegria de viver que se vai esgotando.”
1.5 Os heróis e os malditos
Segundo o livro de Eduardo
Galeano, “dentro de alguns atletas
habita uma multidão. Nos anos quarenta, quando os negros norte-americanos não
podiam partilhar com os brancos nem mesmo o cemitério, Jack Robinson se impôs
no beisebol. Milhões de negros pisoteados recuperaram sua dignidade através
desse atleta que, como nenhum outro, brilhava num esporte que era exclusivo
parta os brancos. O público o insultava, atirava-lhe amendoim, os rivais
cuspiam nele e, em
casa Robinson recebia ameaças de morte.
Em 1996, enquanto o mundo aclamava
Nelson Mandela e sua longa luta contra o racismo, o atleta Josiah Thugwane se
tornava o primeiro negro sul-africano a vencer numa olimpíada. Nos últimos
anos, passou a ser normal que troféus olímpicos sejam conquistados por
atletas de países com Quênia, Etiópia, Somália, Burundi ou África do Sul.
Tiger Woods, chamado o Mozart do golfe, vem triunfando num esporte de brancos
ricos. E já faz muitos anos que são negros os astros do basquete e do boxe.
São negros, ou mulatos, os jogadores que mais alegria e beleza dão ao
futebol.
Segundo o dúplice discurso racista,
é perfeitamente possível aplaudir os negros de sucesso e maldizer os demais.
Na copa do Mundo de 98, vencida pela França, eram imigrantes quase todos os
jogadores que vestiam a camisa azul e iniciavam as partidas ao som da
Marselhesa. Uma pesquisa realizada na época confirmou que, de cada dez
franceses, quatro têm preconceitos raciais, mas todos os franceses comemoram
o triunfo como se os negros e os árabes fossem filhos de Joana d’Arc.
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Assim se
prova que os índios são inferiores
(Segundo
os conquistadores dos séculos dezesseis e dezessete)
Suicidam-se os índios das ilhas do
Mar do Caribe?
Porque são vadios e não querem
trabalhar.
Andam desnudos, como se o corpo
todo fosse a cara? Porque os selvagens não têm pudor.
Ignoram o direito de propriedade,
tudo compartilham e não têm ambição de riqueza? Porque são mais parentes do
macaco do que do homem.
Banham-se com suspeitosa freqüência?
Porque se parecem com os hereges da seita de Maomé, que com justiça ardem nas
fogueiras da Inquisição.
Acreditam nos sonhos e lhes
obedecem as vozes? Por influência de Satã ou por crassa ignorância.
É livre o homossexualismo? A virgindade
não tem importância alguma? Porque são promíscuos e vivem na ante-sala do
inferno.
Jamais batem nas crianças e as
deixam viver livremente? Porque são incapazes de castigar e de ensinar.
Comem quando têm fome e não quando
é hora de comer? Porque são incapazes de
dominar seus instintos.
Adoram a natureza, considerando-a
mãe, e acreditam que ela é sagrada? Porque são incapazes de ter religião e só
podem professar a idolatria”.
Assim se
prova que os negros são inferiores
(segundo os pensadores dos séculos dezoito e dezenove).
Voltaire, escritor anticlerical,
advogado da tolerância e da razão: os negros são inferiores aos europeus, mas
superiores aos macacos.
Karl Von Linneo, classificador de
plantas e animais: O negro é vagabundo, preguiçoso, negligente, indolente e
de costumes dissolutos.
David Hume, entendido em
entendimento humano: O negro pode desenvelver certas habilidades próprias das
pessoas, assim como o papagaio consegue articular certas palavras.
Etienne Serres, sábio em
anatomia: Os negros estão condenados ao primitivismo porque tem pouca
distância entre o umbigo e o pênis.
Francis Galton, pai da eugenia,
método cientifico para impedir a propagação dos ineptos: Assim como um
crocodilo jamais poderá chegar a ser uma gazela, um negro jamais poderá
chegar a ser um membro da classe média.
Louis Agassiz, eminente zoólogo: O
cérebro de um negro adulto equivale ao de um feto branco de sete meses: o
desenvolvimento do cérebro é bloqueado porque o crânio do negro se fecha
muito antes do que o crânio do branco”.
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Bibliografia:
FREIRE, Paulo,
Pedagogia da Autonomia”, Pedagogia do Oprimido” – Paz e Terra – 1996
GALEANO, Eduardo, “ A escola do
mundo pelo Avesso”, Porto Alegre – L&PM
Editores – 2009 –
BOFF,Leonardo, “ A Águia e a
Galinha”, vozes, Petrópolis, RJ, 2009