quinta-feira, 31 de outubro de 2013

ELEGIA DOS DESESPERADOS
Vinicius de Moraes



Meu Senhor, tende piedade dos que andam de bonde
E sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos...
Mas tende piedade também dos que andam de automóvel
Quantos enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos, na direção.


Tende piedade das pequenas famílias suburbanas
E em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos
Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam
E sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina


Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta
Que só tem de seu as costeletas e a namorada pequenina
Mas tende mais piedade ainda do impávido forte colosso do esporte
E que se encaminha lutando, remando, nadando para a morte.


Tende imensa piedade dos músicos de cafés e de casas de chá
Que são virtuoses da própria tristeza e solidão
Mas tende piedade também dos que buscam o silêncio
E súbito se abate sobre eles uma ária da Tosca.


Não esqueçais também em vossa piedade os pobres que enriqueceram
E para quem o suicídio ainda é a mais doce solução
Mas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram
E tornam-se heróicos e à santa pobreza dão um ar de grandeza.


Tende infinita piedade dos vendedores de passarinhos
Quem em suas alminhas claras deixam a lágrima e a incompreensão
E tende piedade também, menor embora, dos vendedores de balcão
Que amam as freguesas e saem de noite, quem sabe onde vão...


Tende piedade dos barbeiros em geral, e dos cabeleireiros
Que se efeminam por profissão mas são humildes nas suas carícias
Mas tende maior piedade ainda dos que cortam o cabelo:
Que espera, que angústia, que indigno, meu Deus!


Tende piedade dos sapateiros e caixeiros de sapataria
Quem lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatos
Mas lembrai-vos também dos que se calçam de novo
Nada pior que um sapato apertado, Senhor Deus.


Tende piedade dos homens úteis como os dentistas
Que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer
Mas tente mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia
Que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.


Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos
Pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão
Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes
Fazei, Senhor, com que deles não saiam políticos também.


E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tenha piedade das mulheres
Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres
Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres
Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!


Tende piedade da moça feia que serve na vida
De casa, comida e roupa lavada da moça bonita
Mas tende mais piedade ainda da moça bonita
Que o homem molesta — que o homem não presta, não presta, meu Deus!


Tende piedade das moças pequenas das ruas transversais
Que de apoio na vida só têm Santa Janela da Consolação
E sonham exaltadas nos quartos humildes
Os olhos perdidos e o seio na mão.


Tende piedade da mulher no primeiro coito
Onde se cria a primeira alegria da Criação
E onde se consuma a tragédia dos anjos
E onde a morte encontra a vida em desintegração.


Tende piedade da mulher no instante do parto
Onde ela é como a água explodindo em convulsão
Onde ela é como a terra vomitando cólera
Onde ela é como a lua parindo desilusão.


Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas
Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade
Mas tende piedade também das mulheres casadas
Que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.


Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas
Que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas
Mas que vendem barato muito instante de esquecimento
E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.


Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas
De corpo hermético e coração patético
Que saem à rua felizes mas que sempre entram desgraçadas
Que se crêem vestidas mas que em verdade vivem nuas.


Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto alegria e serenidade.


Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras
Que são crianças e são trágicas e são belas
Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam
E que têm a única emoção da vida nelas.


Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse
Ter piedade de si mesma e da sua louca mocidade
E outra, à simples emoção do amor piedoso
Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.


Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas
A vida fere mais fundo e mais fecundo
E o sexo está nelas, e o mundo está nelas
E a loucura reside nesse mundo.


Tende piedade, Senhor, das santas mulheres
Dos meninos velhos, dos homens humilhados — sede enfim
Piedoso com todos, que tudo merece piedade
E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!

sábado, 19 de outubro de 2013

O Petróleo é nosso - Num auditório abarrotado em Belo Horizonte, Lobato resume: "Compreendi ser o petróleo a grande coisa, a coisa máxima para o Brasil, a única força com elementos capazes de arrancar o gigante do seu berço de ufanias"

Apesar de percebermos que o autor deste texto era contrário a proposta Pioneira de MONTEIRO LOBATO, em estatizar a exploração de PETRÓLEO, dá para entender como historicamente iniciamos a campanha: "O PETRÓLEO É NOSSO"

A campanha "O Petróleo é nosso", empolga o país e servirá de pretexto para que o Congresso Nacional aprove a legislação sobre o Petróleo que, na última hora, recebeu uma emenda que criou o monopólio da Petrobrás.
Toda obra literária de Monteiro Lobato tem uma forte conotação política. Mesmo naquelas de pura fábula, é política a intenção e a motivação do autor. Como jornalista e como editor todo seu trabalho foi pautado por sua vocação político-libertária. Sem filiar-se oficialmente a organizações ou partidos políticos, Lobato sempre esteve presente nos debates sobre os problemas nacionais e nunca deixou de opinar sobre os assuntos que afetavam a vida do País.
Sua idéia de Brasil nação instiga seu inconformismo com o desenraizamento cultural. Ataca os modismos importados que nada têm a ver com a realidade e propugna pelo resgate do elemento nativo brasileiro de rica tradição. Nessa mesma linha denuncia a agressão que se faz ao nosso idioma adotando vocábulos estrangeiros por simples espírito de imitação. Nas diversas cruzadas e causas públicas em que se engajaria ao longo da vida – contra a ditadura de Bernardes primeiro, depois a de Várgas, em defesa do voto secreto -, Monteiro Lobato sonhava trasformar o Brasil em uma nação próspera cujo povo pudesse desfrutar os benefícios gerados pelo progresso e desenvolvimento. Com essa perspectiva já na fazenda Buquira, que herda do avô, tentou implantar novos métodos de criação e produção agrícola, incentivando ainda as campanhas de saneamento.
Para Lobato, o atraso do país só seria superado pelo trabalho racional e aposta na modernização. Sua luta pela adoção de processo científicos em todos os níveis da atividade humana encontrou a síntese em Henry Ford que ele traduz em seu personagem Mr. Slang, que rebate as críticas dos céticos que culpam a índole do povo pelo atraso do país.
Ferro e petróleo
Certo de que transformaria seu país em uma nação produtiva, eficiente e rica, Monteiro Lobato abandona temporariamente a literatura e a atividade de editor e livreiro, a que se havia dedicado consciente da importância do poder da comunicação, para vivenciar experiências no mundo da indústria e dos negócios.
"O solo, a superfície, apenas permite a subsistência. O enriquecimento vem de baixo. Vem do subsolo". Entretanto, não bastava explorar as riquezas. Era preciso que o país usufruísse delas. Trabalha para iniciar a produção do ferro com metodologia moderna recém patenteada nos Estados Unidos, utilizando recursos naturais disponíveis no País, tais como a palha do café e o xisto betuminoso.
Os relatórios que envia de Nova York, onde ocupou o posto de adido cultural no consulado brasileiro, são eivados de oportunas observações sobre formas de criar alternativas de exportação de produtos brasileiros. As longas cartas enviadas posteriormente ao presidente Vargas são verdadeiras plataformas desenvolvimentistas e nacionalistas.
Decidido a convencer o povo brasileiro da importância dos empreendimentos petrolíferos, Lobato alimenta debates pela imprensa e realiza palestras. Prega a necessidade da independência econômica e aponta o caminho para alcançá-la. "Conferências sobre o petróleo constituem novidade absoluta. Conferências de negócio1 Para promover a venda de ações duma companhia! Para levantar dinheiro !"
Num auditório abarrotado em Belo Horizonte, Lobato resume: "Compreendi ser o petróleo a grande coisa, a coisa máxima para o Brasil, a única força com elementos capazes de arrancar o gigante do seu berço de ufanias"
Lançada em 1931, sua Companhia Petróleos do Brasil tem a metade das ações subscritas em quatro dias. Satisfeito com os primeiros resultados percorre o país divulgando o andamento das últimas descobertas.
Ao mesmo tempo que reclama dos entraves e da burocracia do Ministério da Agricultura que dificultavam as atividades da sua companhia denuncia, em documento enviado a Vargas, as manobras da Standar Oil para assenhorar-se dos melhores lençóis petrolíferos brasileiros através da filial argentina.
Em 1936, a sonda de Alagoas da Cia. Petróleos Nacional sofre intervenção federal e é interditada. Lobato resiste, consegue levantar alguns recursos e finalmente, a 250 metros de profundidade vê irromper o primeiro jato de gás de petróleo do poço São João, em Riacho Doce, em Alagoas.
Numa jogada estratégica, em 1935, lança pela Cia Editora Nacional: " A luta pelo petróleo", de Essad Bey, que denuncia a ineficiência do Serviço Geológico, órgão oficial encarregado das pesquisas, a quem acusa de encampar internamente a política dos trustes internacionais para o Brasil : "não tirar petróleo e não deixar que ninguém o tire".
Em 1936 lança "O escândalo do Petróleo" que teve duas edições esgotadas em menos de um mês. Convencido de que os trustes tudo fariam para sabotar o petróleo brasileiro, na página de rosto do livro Lobato conclama os militares a assumir sua parcela de responsabilidade na questão da soberania nacional: "Se não ter petróleo é inanir-se economicamente, militarmente é suicidar-se".
Conferência em Belo Horizonte durante a campanha do petróleo, 1937
Apesar de todos os reveses, Lobato e seus companheiros persistem e, em julho de 1938, realizam a assembléia de constituição da Companhia Matogrossense de Petróleo, com objetivo de perfurar em Porto Esperança, em Mato Grosso, região com a mesma estrutura geológica da Bolívia que estava produzindo óleo de qualidade.Em março de 1938, Lobato, em carta a Getúlio, ressalta que as novas diretrizes do Departamento Nacional da Produção Mineral representam um golpe de morte para o petróleo no país e exorta: "Pelo amor de Deus, e do Brasil, não preste sua mão generosa à mais cruel e mesquinha obra de vingança pessoal, disfarçada em sublime nacionalismo." Veja mais sobre Cartas
No dia 20 de março de 1941 é preso subitamente em São Paulo, segundo a agência norte-americana Overseas News Agency, "vítima de intensa campanha de militares brasileiros e outros elementos pró-nazismo, que combatem os elementos democráticos e anglófilos do país".
Impedido de receber visitas, conversar com outros detentos ou tomar sol no pátio, conta em carta a Purezinha, sua esposa, a vida em prisão. "É a gente sozinho com o pensamento, e nunca o pensamento trabalha tanto. Mas de tanto trabalhar acaba girando num círculo". (Leia a íntegra desta carta). Última peça do inquérito policial, o relatório encerrado em 1º de fevereiro, salienta que "ficou provado à saciedade que o dr. José Bento Monteiro Lobato ... procura com notável persistência desmoralizar o Conselho Nacional do Petróleo, sem contudo apresentar qualquer prova de suas acusações ".
Em 1950, inspirados no exemplo de Monteiro Lobato, os partidos políticos de esquerda e os movimentos sociais lançam a campanha de rua em defesa do Petróleo. A campanha "O Petróleo é nosso", empolga o país e servirá de pretexto para que o Congresso Nacional aprove a legislação sobre o Petróleo que, na última hora, recebeu uma emenda que criou o monopólio da Petrobrás.

Petróleo no Brasil: memória de lutas populares

Petróleo no Brasil: memória de lutas populares

Clique aqui para ouvir(8'28'' / 1,93 Mb) - O petróleo que o Brasil tem em mãos e as novas reservas na camada pré-sal nos remetem às conquistas históricas dos trabalhadores e do povo brasileiro. A luta pela soberania do petróleo começou nas décadas de 40 e 50, antes de a Petrobras ser criada, quando a campanha "O Petróleo é Nosso" envolveu estudantes, sindicatos, nacionalistas, militares, a Igreja, organizações de esquerda e os setores preocupados com o futuro do país.

O movimento “O Petróleo é Nosso” pressionou o presidente Getúlio Vargas para criar a Petrobras. As mobilizações também fizeram com que Vargas criasse a Lei do Petróleo, que garantiu o monopólio do Estado brasileiro sobre as reservas petrolíferas que viessem a ser exploradas.

O Secretário-Geral do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Ivan Pinheiro, avalia que a campanha foi decisiva para a criação da Petrobras e do monopólio da União sobre as riquezas.

“A Petrobras foi a criação de uma luta do povo brasileiro em torno da bandeira ‘O Petróleo é Nosso’. Isso é fundamental, porque o petróleo talvez seja a maior riqueza que o Brasil tem para enfrentarmos os problemas sociais.”

De acordo com especialistas, desde então, o monopólio do petróleo pela União forneceu a base para a auto-suficiência que o Brasil possui atualmente. Além disso, possibilitou o desenvolvimento de tecnologias pela Petrobras, o que permitiu as descobertas das riquezas gigantescas na camada pré-sal.

No entanto, nos anos 90, com o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a Petrobras e a exploração do petróleo brasileiro sofreram um grave ataque. A lei 9478/97 visava a alteração da Lei do Petróleo.

O petroleiro da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), Emanuel Cancella, esteve presente nas lutas para barrar a aprovação da lei de 1997.

 “A queda do monopólio estatal do petróleo aconteceu mesmo com a resistência do movimento sindical, mesmo após termos ocupado um salão dentro do Congresso Nacional. Infelizmente, criaram a lei 9478/97 e instituíram a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Essa agência trouxe para o nosso país as concorrentes petroleiras, que já estiveram no Brasil por 13 anos e não fizeram nenhuma descoberta significativa de petróleo. A Petrobras, durante 30 anos, desenvolveu tecnologias que ajudaram na descoberta do pré-sal.”

Foram características desse período a quebra do monopólio do petróleo explorado e a venda de 60% das ações da Petrobras na Bolsa de Valores – 40% delas na Bolsa de Nova York. Fernando Henrique Cardoso chegou a propor que a Petrobras fosse rebatizada como “Petrobrax”, aberta ao capital internacional. Os trabalhadores da Petrobras sofreram ataques aos seus direitos. Eles foram reprimidos durante a greve de 1995 com o uso da força do exército.

Com a criação da ANP, mais de 700 contratos de licitação de áreas para exploração foram assinados, inclusive as atuais áreas recém-descobertas do pré-sal. A política de licitações de áreas continuou com o governo Lula. Hoje, 38% das reservas do pré-sal estão em mãos de concessionários privados, entre eles empresas estrangeiras, como a Petrogal e a Exxon, ao lado da Petrobras. Na avaliação do coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antonio de Moraes, as medidas iniciadas neste período representam até hoje um ataque à soberania nacional.

“O principal prejuízo é em termos de soberania. Um país que não controla essas áreas [energéticas] certamente não tem sua soberania plena, pois é uma área essencial para o desenvolvimento do país. Isto é, 50% da matriz energética do Brasil e do mundo está vinculada ao petróleo. Portanto, controlar energia e o petróleo é fundamental para termos soberania. Os grandes prejuízos sofridos pelo Brasil foram os econômicos e os da soberania.”

Ainda na década de 70, a Petrobras desenvolveu uma tecnologia para perfuração em águas profundas – um investimento pouco atrativo naquele momento histórico. Na época, começava a sinalizar o aumento do preço de petróleo no mercado mundial. De acordo com especialistas, o objetivo da Petrobras era garantir a auto-suficiência futura na exploração do recurso energético.

De acordo com o Secretário-Geral do PCB, Ivan Pinheiro, por esta razão é necessário que a Petrobras seja uma empresa 100% estatal, que explore as novas jazidas – uma das bandeiras da campanha “O petróleo tem que ser nosso”.

“Talvez seja a bandeira mais importante para as forças progressistas, nacionalistas e de esquerda no Brasil. A Petrobras tem que ser 100% estatal. Graças à tecnologia da Petrobras é que surgiu a possibilidade de o Brasil ter um manancial grande de petróleo, como o caso do pré-sal. Defendemos a Petrobras como estatal, para que os lucros da exploração do petróleo estejam a serviço da resolução de graves problemas sociais brasileiros, como saúde, educação, habitação e saneamento.”

As organizações da atual campanha afirmam que a lei do petróleo deve ser alterada. Dentro do atual modelo exploratório de concessões, o Estado brasileiro recebe apenas 8% de royalties das transnacionais do ramo, que se tornam proprietárias de todo o petróleo retirado do solo brasileiro. Assim, o Brasil acomoda-se ao lado de países que adotam as concessões como Estados Unidos, Canadá e Emirados Árabes na atual política do petróleo – na contramão da tendência mundial, onde 65% das reservas estão nas mãos dos estados nacionais. Países como Iran e Venezuela redefiniram o seu controle sobre os recursos energéticos.

Na Inglaterra, a participação do Estado na receita do petróleo é de 50%. No Brasil, o Estado fica com 23%. Por sua vez, a Noruega apresenta altos índices de desenvolvimento humano e não é à toa: quase 80% do petróleo explorado no Mar do Norte fica com o Estado.

A análise do coordenador da FUP, João Antonio de Moraes, é de que a lei de 1997 é prejudicial ao povo brasileiro e deve ser alterada. O coordenador avalia o que é necessário para isso.

“Seguramente é uma mobilização popular e social em defesa da mudança da Lei do Petróleo para garantir a soberania do país sobre esse importante recurso e, principalmente, a destinação social dos recursos oriundos dessa área. Uma riqueza que a natureza levou milhares de anos para produzir não pode ficar a mercê do interesse econômico de uma ou outra empresa, tem que estar de fato a serviço da nação. E só poderá estar a serviço da nação, na medida em que as forças populares conseguirem mudar a lei do petróleo, para assim, garantir controle sobre essa riqueza.“

Leia e ouça todos os programas da série especial "O petróleo tem que ser nosso":
Programa 1 - Petróleo no Brasil: memória de lutas populares


Ficha técnica

Coordenação: Danilo Augusto

Revisão de conteúdo: Ana Maria Amorim, Aline Scarso, Desirèe Luíse e Pedro Carrano

Reportagem: Pedro Carrano

Vinhetas: Dafne Melo e Nilton Viana

Sonoplastia: Adílson Oliveira e Jorge Mayer

Locução: Ana Maria Amorim e Pedro Carrano


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Biografia de um dos maiores escritores infantis, além de defensor da causa do Petróleo no Brasil, no início do século XX

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Print version ISSN 0100-1574

Cad. Pesqui.  no.111 São Paulo Dec. 2000

http://dx.doi.org/10.1590/S0100-15742000000300013 

RESENHAS
 
 
Maria Célia Paulillo
Centro Universitário Fundação Instituto de Ensino para Osasco – Unifieo/SP


MONTEIRO LOBATO: UM BRASILEIRO SOB MEDIDA
Marisa Lajolo
São Paulo: Moderna, 2000, 99 p.

Ao longo dos anos, a história da literatura fixou uma imagem multiforme e um tanto contraditória de Monteiro Lobato. De uma lado, afirma-se o escritor inventivo, considerado o criador de nossa literatura infantil; de outro, configura-se o crítico de pintura que tripudiou sobre os quadros inovadores da pintora modernista Anita Mafalti; ora cita-se o fazendeiro que ridicularizou seus agregados na figura do Jeca Tatu, ora exalta-se o cidadão progressista defensor do petróleo nacional. O novo livro de Marisa Lajolo, Monteiro Lobato: um brasileiro sob medida, vai além dessa imagem, mostrando que a carreira poliédrica do escritor foi fruto de uma visão de mundo arrojada e moderna, sempre em perfeita sintonia com o seu momento histórico.
O livro de Marisa começa como uma biografia sentimental e até convencional. Nos capítulos iniciais, a autora confessa as raízes infantis do seu encanto pelo escritor, acompanha os primeiros passos de Lobato nos meios escolares, narra a quase obrigatória passagem pelas arcadas da faculdade de Direito de São Paulo e a atividade de fazendeiro-escritor nas terras herdadas do avô visconde. Mas, aos poucos, vai se desvelando para o leitor a personalidade rica e vigorosa de Lobato, que passa de escritor para "escritor-editor de si mesmo, e finalmente editor de obras alheias", percorrendo uma trajetória pontuada de "impasses, hesitações e remorsos".
Apesar dos momentos de dúvida, o perfil do escritor-editor se afirma com todo seu vigor. Em uma época em que a qualidade gráfica dos livros era considerada fator irrelevante para os editores brasileiros, Lobato intui que a aparência do produto era indispensável para atrair a atenção dos leitores. Contrata artistas plásticos para modernizar as capas e ilustrar os textos, assim imprimindo uma feição artística na materialidade do livro. Faz considerações sobre a importância da censura e do escândalo como desencadeadores de venda de um livro, ou ainda, discute a diversidade de interesses entre escritor e editor. Essa concepção utilitária da literatura é ousada para os anos 20, mas, como diz Marisa Lajolo, está em sintonia com seu tempo, pois então "o Brasil timidamente se moderniza, e se moderniza numa direção capitalista".
Outro tema abordado na biografia, como não poderia deixar de acontecer, são os livros infantis, considerados pela autora como a mais bela invenção de Lobato. Aqui, entretanto, a obra lobatiana é vista sob um ângulo novo, pois Marisa vai além das apreciações textuais e mostra que a saga do Sítio do Picapau Amarelo foi um verdadeiro "projeto literário e pedagógico sob medida para o Brasil". Logo após publicar seu primeiro livro, Narizinho arrebitado, o autor transfere a experiência de editor de literatura adulta para a realidade mercadológica do livro infantil. Conhecedor do papel fundamental da escola e do Estado na difusão da leitura, dá o primeiro impulso a sua obra infantil distribuindo gratuitamente 500 exemplares de Narizinho arrebitado às escolas públicas paulistas. O sucesso entre os leitores mirins, que deixava o livrinho surrado, impressionou o governador Washington Luís em suas visitas às escolas, fato que levou o secretário da Educação Alarico Silveira a fazer uma compra de 30 mil exemplares!
Sempre atento a sua realidade, Lobato soube incorporar, em uma obra ficcional pautada pela fantasia e pelo humor, informações muitas vezes coincidentes com o currículo escolar. Em contraposição à escola convencional, alvo de freqüentes críticas das personagens lobatianas, o Sítio do Pica-Pau Amarelo surge como uma escola alternativa. Nela, conhecimentos de gramática, matemática, geologia e até rudimentos de uma política nacionalista de petróleo são veiculados e assimilados de forma crítica, independente e freqüentemente questionadora, especialmente quando a relação de ensino-aprendizagem se dá entre Dona Benta e a discípula Emília.
Nos anos 40, quando ainda nem se pensava em Mercosul, o autor acalentou um desdobramento latino-americano de sua obra, por meio de um projeto em que a história da América fosse contada às crianças pelo vulcão andino Aconcágua. O projeto, que não chegou a ser implementado, é inovador e ousado, tanto no plano intelectual como editorial. Primeiro, porque propõe um novo modo de contar a história da América, isto é, a partir de um ponto de vista diferente do colonizador europeu. Segundo, porque procura ampliar o mercado de leitores, atingindo um público além de nossas fronteiras.
Outro fator que atesta a modernidade de Lobato foi sua capacidade de conquistar os leitores mirins. Este é o caso do coloquialismo da voz narrativa, recurso inédito nas histórias infantis brasileiras, até então conduzidas por um narrador de voz impostada. Segundo o escritor paulista Afonso Schmidt, as primeiras obras para crianças brasileiras eram histórias francesas recontadas por tradutores portugueses, cujo vocabulário era incompreensível até para os adultos. Embora as publicações infantis tenham evoluído com os escritores nacionais, como Olavo Bilac, João do Rio e Viriato Correia, Schmidt afirma que a grande virada só aconteceria com Lobato, o primeiro a escrever "na língua da gente". Outro recurso ficcional inaugurado na saga do Sítio do Picapau Amarelo, hoje empregado pelos autores infantis, é o formato seriado da obra, que repete o mesmo espaço e os mesmos personagens, elemento fundamental para manter a fidelidade dos leitores.
Do escritor de obras adultas, a biógrafa destaca as personagens de Jeca Tatu, Jeca Tatuzinho e sua última versão, Zé Brasil. Entre eles, decorrem 30 anos de evolução política de Lobato. Com o Jeca Tatu, temos a crítica impiedosa do jovem fazendeiro contra a indolência do caipira; já o Jeca Tatuzinho é visto pela ótica compreensiva do escritor maduro que revê a personagem como vítima da subnutrição e das endemias que assolavam a saúde do brasileiro. E um ano antes da morte do autor, chegamos à declaração de luta entre o latifundiário Tatuíra e o Zé Brasil. Trata-se, agora, de uma criação integrada em um novo contexto econômico e político, o "da propriedade da terra, da questão rural, da política agrária, das organizações de esquerda".
Outro livro comentado pela autora é O choque das raças ou O presidente negro, ficção científica que trata dos problemas raciais na sociedade norte-americana do ano 2228. Lobato leva os originais para os Estados Unidos, para onde se muda em 1927, investido no cargo de adido comercial brasileiro. Entusiasmado com o dinamismo do país, tenta publicar a obra com a finalidade de penetrar no mercado norte-americano. Um editor local acena com a possibilidade de publicá-lo desde que o escritor adequasse o livro à realidade mercadológica do país. A proposta, que inclui desde o acirramento do tema racial até a provocação de um escândalo literário, é admitida e até ampliada pelo escritor. Segundo Marisa Lajolo, embora o livro não tenha sido publicado, o episódio é significativo pois mostra que no projeto de Lobato para o Presidente negro não há "mais lugar para a imagem ingênua do escritor para quem a produção de um texto corresponde a uma necessidade de expressão íntima, como reza a tradição romântica".
Monteiro Lobato: um brasileiro sob medida trata ainda de outros momentos da vida do grande escritor, como a publicação de O escândalo do petróleo, a elaboração de seu projeto petrolífero para o país, os problemas com o governo, o exílio na Argentina, a simpatia por Luís Carlos Prestes, o final de vida de amargura, apesar do reconhecimento do público. Vale a pena ressaltar que os fatos e as interpretações da biografia, fruto de anos de pesquisa da autora, são relatados em uma linguagem clara e agradável, em um tom elegantemente coloquial. No final do volume, foram incluídos uma bibliografia comentada sobre o autor e um quadro cronológico contendo os principais acontecimentos da biografia e do momento histórico em que viveu o escritor.
O projeto gráfico do livro, assinado por Moema Cavalcanti, é uma verdadeira homenagem ao editor Lobato, a começar pelo formato pouco usual (mais largo que alto) do volume, que lembra os livros infantis. Também digno de nota é o uso da cor forte e vivaz que acompanha a capa com a foto do escritor, as folhas de guarda, as antigas ilustrações das personagens infantis (que infelizmente não trazem o crédito dos artistas que as desenharam), enfim, todos os detalhes decorativos que permeiam a obra. Finalmente, as ilustrações com fotos de São Paulo antigo e reproduções de algumas das lindas capas encomendadas pelo editor Lobato. Por tudo isso, o livro deve agradar tanto aos especialistas em literatura e cultura brasileira como aos leitores leigos que gostam de uma boa e bonita biografia.

domingo, 13 de outubro de 2013

Recontando estóriasII - "O céu e o Inferno"

RECONTAÇÃO DE ESTÓRIAS
Não falei a princípio, mas, adoro ler e recontar o que li. Sempre contei estórias em casa e depois de adulta  penso que sou uma contadora de histórias, pois já o fiz como voluntária numa Creche Benemérita e APAE de Pádua.
Meu sonho é escrever um livro de estórias que ouvi e que li com a minha narração.



O Céu e o Inferno

Um sujeito, desses que não incomodam ninguém, mas também não ajudam, morreu. Preocupado aguarda São Pedro na  ante sala, nervoso por não saber para onde iria sua alma. Ao que chega Pedro cheio de chaves e o chama pelo nome, soou estranho, mas o falecido  seguiu o Santo.

Curioso perguntou e apelou: -Posso saber a diferença do Inferno para o céu antes de ser encaminhado para onde eu mereça?

Prontamente Pedro o levou em um salão com uma enorme mesa, um panela grande cheia de comida, mas as pessoas passavam fome porque não existia talheres pequenos; somente, uma enorme colher de pau. O homem ficou apavorado de ver tanta gentepassando fome com comida sobre a mesa. É que as pessoas ali, não conseguiam se alimentar com os próprio braços, por ser a colher imensa.

Então Pedro levou o homem ao Céu    e para sua surpresa, o cenário era o mesmo. A mesa grande com um panelão sobre a mesa e a enorme colher de pau. Porém algo diferente acontecia ali. As pessoas em volta da mesa,  serviam a alimentação ao vizinho e assim todos ficavam alimentados.

O homem saiu dali pasmo e concluiu que o Inferno e o Céu, estão presente em todos os momentos da vida na terra também. A diferença é que a solidariedade atende a todos e os torna felizes, enquanto o egoísmo não enxerga nada além de si mesmo.




ZIRALDO FALA SOBRE A MORTE PARA SEU NETO


O contemporâneo escritor infantil, Ziraldo, com a perda da mulher, sentiu necessidade de justificar a morte da esposa para si e acalentar o seu netinho que estava inconsolável.  Com isso, através de diálogos e hipóteses com o menino, conseguiu chegar à resiliência e explicando um tema difícil como esse. Fez um livro que teve uma grande demanda, visto que o mercado literário só aborda as aventuras entre outros temas para crianças.

Ziraldo, juntamente com o neto, fez a biografia da vovó, lembrando fatos agradáveis, porém sempre lembrando  o cotidiano e tudo que se relacionava com a vida em família, sempre ressaltando os talento da vovò. O Autor teceu uma história de modo que no final fosse verdadeira para eles.

Depois de falar da vida de sua mulher para o neto,, conseguiu chegar a seguinte conclusão papável:  “Filho, se existe um lugar bom após a morte, o céu, certamente a sua vó estará pois como conversamos, ela era um pessoa bondosa, caridosa e merecedora de um lugar bonito e bom após a morte. Porém, se a morte é como asseguram os cientistas, também não haverá problema algum, pois assim teremos a certeza de que ela não estará vendo nada. Dessa forma é melhor lembrarmos da vovó, enquanto ela estava entre nós, pois certamente ela está bem.”

Lindo!  Eu li o livro e fiquei encantada com a humildade de Ziraldo em não impor ponto de vista ao neto.  Foi muito grande a procura desse livro que não me recordo mais o nome.

Tania Maria da Silva – 17/08

                 




Recontando estórias que ouvi vida afora




ONDE ESTÁ A SUJEIRA?

            Um casal com um relacionamento tido como normal, mora numa casa com muitas janelas e portas de vidros. O marido, assíduo leitor, sentado em sua cadeira predileta ouve todos os dias, a esposa vigiar a casa dos vizinhos. E o comentário era o mesmo:
-Fulano. Você não acha que a roupa da vizinha está mal lavada?
            E o homem em sua paciência dizia:
- Mulher. Olhe para a nossa casa. Tem tanta coisa aqui a fazer.
            E todos os dias, a mulher olhava para as roupas da vizinha, que continuavam sujas. Porém um belo dia caiu uma tempestade de lavar até pensamento.  Depois da tempestade, já no outro dia,  a mulher chama o marido e eufórica lhe diz:
_ A vizinha aprendeu a lavar roupas. Olhe. Tudo limpinho!
Ao que o marido respondeu.
_Será que você não havia percebido que os vidros de nossa casa estavam imundos? A tempestade os lavou e agora você está conseguindo enxergar claramente.
E aí? Como anda a sua casa? A do vizinho é problema dele. Pensemos nisso!





SOPA DE PEDRA

            Um viajante passa por um  lugarejo muito pobre e logo trava conversa com os habitante daquele lugar, que era muito árido, dificultando o cultivo para o povo se alimentar. Quase todos, passavam muitas necessidades, pois quem tinha dinheiro, mandava vir da cidade.
            O Forasteiro tornando-se amigo dos pequenos produtores, que na época, passavam por forte seca e não tinham alternativas para fazer a alimentação diária. Com muitas crianças, que era a prioridade da Vila; os adultos só comiam se fosse possível. Isso já vinha acontecendo a vários dias e as pessoas tinham que ter energia, ao menos para sair para caçar, mas, todos estavam muito abatidos.
            Vendo isso, o caminhante, muito experiente disse: _Certa vez, passando por necessidades no caminho, aprendi a fazer uma sopa de pedras deliciosa, podemos experimentar aqui.  As pessoas se entreolharam, duvidando de tal falácia e ao mesmo tempo , sem outra opção, aceitaram
            Então o homem estranho, começou a pedir os acessórios necessários;  madeira, blocos de pedra, uma panela de ferro bem grande, pá, algumas pedrinhas lavadas e água para colocar na panela.  Todos em volta olhavam para aquilo com desconfiança; porém  o coziheiro começou a delegar tarefas para cada um dos moradores da Vila.
            Primeiro, pediu sal e uma senhora se prontificou em buscar; depois foi pedindo que trouxessem raízes de plantas nativas, lhe chegando a mão, leguminosas variadas. E ia mexendo na panela e provando a sopa, que a cada ingrediente silvestre ficava mais deliciosa. Algumas senhoras se lembraram de temperos caseiros usado por suas mães, sendo esses acrescentados.  E finalmente a panela da panela vinha um aroma tão saboroso que todos se aproximaram para ver aquela sopa suculenta, pronta pra ser servida. Porém, antes de servi-la, o caminhante, retirou as pedras de dentro da sopa e serviu ao povo. Que festa!!!
            Depois de todos alimentados, felizes, fizeram uma roda em volta do novo amigo; perplexos  e reflexivos. “Como não haviam pensado nisso antes? E o caminhante disse: “quando estamos dentro de uma situação difícil, pensando na solução, deixamos de procurar meios que possam ser usados, para que calmamente consigamos resolver a questão. Nesse momento, estamos muito próximos do problema e não enxergamos alternativas para resolvê-lo. A colaboração de alguém que tenha outras experiências e outro ponto de vida, pode nos ajudar.
 Mas de uma coisa estejam certos: NÃO EXISTE O IMPOSSÍVEL QUANDO HÁ FORÇA DE VONTADE” .

Tania Maria da Silva