sexta-feira, 30 de março de 2012

Delíro Mental ou fuga da realidade.....

Delírio: a realidade da fantasia

Fábula e polissemia

            Como a fábula é um fato imaginário, a polissemia (tem nome de doença infecciosa,) é o significado que algumas palavras têm, podendo ser múltiplas interpretações para a mesma palavra. E aminha vida é povoada de uma e outra, principalmente nos surtos.
            Como já disse em outro texto, quando em crise profunda, tinha medo dos inimigos externos e me refugia em minha casa (meu forte) quase por todo o dia, exceto na hora de comprar cigarros. Moro no primeiro andar do meu prédio, mas mesmo assim livava algum tempo para sair de casa. Primeiro tinha que arrumar a minha bolsinha de S.O.S,; chaves, dinheiro, uma imagem de um santo, que não fosse do gosto de meu pai. Ele me deu São Sebastião, mas eu tinha medo. São Jorge era o seu favorito, e eu olhava para a lança e o dragão e achava o santo muito violento. Tinha que ser Maria ou Jesus, pois para que falar com santos se podemos ir direto à Deus?
            Bem, mas a minha grande aventura era sair à rua sem maiores problemas. Ia até a sacada do meu quarto e uma letra da Rapunzel vinha a minha cabeça. Tem alguém me vigiando. Como pode eu me lembrar dessa música sacana da Ivete Sangalo, logo quando estou na sacada. E que sacada! Olhava para baixo e começava a olhar a cidade que não parava nunca, exceto nos fins de semana. Que falatório! Naturalmente comentavam de mim. Então observava o movimento dos ônibus e aí começava outra indagação, e mais injúrias. Passava o 1001 e eu me sentia um bombril de mi e uma utilidades ,  lá vinha o Paraibuna e de novo me provocava com seu ar de pau de arara, O Brasil nem pensar, quintal do Eua, mas eis que de repente passava o progresso, então eu descia.
            As palavras tinham um poder muito grande para mim, fossem escritas faladas ou subtendidas.. E como eu não comia em casa, lanchava na rua, outro drama era achar uma lanchonete ou bar que não me soasse com tom capcioso. Lanchonete “Sabor do Trigo”, o trigo era Boa Sorte; o mesmo que minha madrasta usou para fazer bolinhos de chuva na minha casa. E ela era uma bruxa que estava sempre me humilhando naquela fase. Sabor do Trigo era sabor de madrasta; morte na certa, pensava eu. Este não!
Olhava para o bar Tio Patinhas e me lembrava do cofrinho do meu pai sempre a tilintar moedas de R$ 1,00 toda vez que ele voltava da rua. Eu sou de esquerda e me lembrava da música do Geraldo Vandré, até que me dava um pouco de coragem e então atravessava e entrava no bar do Gilson que me parecia liberado para comer e para comprar cigarro, Outra questão vinha agora. Suco de caju ou de mara cu-já! Mara- cuja, eu ficava espantada e o de caju era o que meu pai mais tomava. Eu queria subverter a ordem mas estava totalmente  limitada..
            Ltda. Pelo menos por enquanto, pois eu tinha planos  de conscientizar aquelas réplicas da Matrix e torna-los livres também, aproveitava e ficvaa um bom tempo na praça maquinando uma saída para sair daquele sertão. Se todos estavam satisfeitos eu iria sozinha. Como?  Sem dinheiro? A pé, hum mas era tão longe que já desanimava antes de arrepiar carreira. Além de outra preocupação; todos sabiam o que eu pensava. Assim não valia! Era uma tremenda covardia. E não é que não sei  de onde saiu o caminhão escrito  Eureka!
Pronto; sonho desfeito, eles desfilavam à minha volta para mostrarem que estavam com a força. “Descobri a pólvora!”, eu ia repetindo pelo caminho e quase sem pensar estava dentro de casa, mesmo com o risco dos bombeiros (nome estranho para gente de bem- bombeiro hidráulico, acho que derivado de bomba- defesa civil soa melhor) passei a abominar os Bom - beiros.
            Eu queria palavras novas, coisas que me remetessem a uma coisa mais concreta, sem possibilidades de manipulação. Afinal o meu pensamento não deveria ser de domínio público. Certo?
            Graças a Deus e à intervenção dos funcionários do CAPS local, que visitavam a minha casa até mesmo aos domingos e sem deixarem me internar num manicômio consegui aos poucos ir voltando à sanidade. Melhorei, mas continuo a tomar remédios e fazer terapia, fatores imprescindíveis para a minha saúde Mental. Aliás o CAPS de onde moro, para mim é como uma segunda família, onde sei que posso contar com o apoio de todos, quando preciso e com os meus amigos, usuários também.
            Depois desse episódio voltei a trabalhar formalmente, passei no vestibular para Pedagogia e já estou no 4º período, pretendo aprender Inglês e me aprimorar em na minha área. Tenho encontrado muitas montanhas seguidas de vales, mas vou caminhando e tentando fazer o melhor que posso. Apesar de qualquer dificuldade que atravesso, agradeço a Deus diariamente por estar lúcida e sabendo o que está acontecendo comigo e saber por hoje estou bem.

Tânia Maria da Silva

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