PAULO
FREIRE
E UMA NOVA FILOSOFIA PARA A EDUCAÇÃO
José
Luiz de Paiva Bello
Vitória
- 1993
Paulo Freire é inspirador de um método
revolucionário que alfabetizava em 40 horas, sem cartilha ou material didático.
Em Natal, no ano de 1962, no Rio Grande do Norte, surgia a campanha De Pé
no Chão Também se Aprende a Ler, sob a liderança de Moacir de Góis. Em
Recife, Pernambuco, o Movimento de Cultura Popular, o MCP,
instalava as "praças de cultura" e os "círculos
de cultura". O cunho fundamental desta "campanha" era
menos o alfabetizar, mas, principalmente, reciclar culturalmente uma população
que ficara para trás no processo de desenvolvimento, vivenciando posturas
próprias do período colonial em pleno século XX. Paulo Freire achava que o
problema central do homem não era o simples alfabetizar mas fazer com que o
homem assumisse sua dignidade enquanto homem. E, desta forma, detentor de uma
cultura própria, capaz de fazer história. Ainda segundo Paulo Freire o homem
que detém a crença em si mesmo é capaz de dominar os instrumentos de ação à sua
disposição, incluindo a leitura. Com o golpe militar de 1964, a experiência de
Paulo Freire, já espalhada por todo o país, foi abortada sob alegações
inconsistentes como subversiva, propagadora da desordem e do comunismo etc.. A
cartilha do MEB foi rasgada diante das câmeras de televisão, no Programa
Flavio Cavalcante, depois de ter sido proibida, no extinto Estado da
Guanabara, pelo então Governador Carlos Lacerda. As campanhas de alfabetização
que tinham objetivos mais abrangentes do que a própria alfabetização chegava ao
seu fim, em 1964. Alguns trabalhos dispersos continuaram a ser levados a
efeito, mas a proposta de renovação humana estava prejudicada.
Paulo Freire concebe educação como reflexão
sobre a realidade existencial. Articular com essa realidade nas causas mais
profundas dos acontecimentos vividos, procurando inserir sempre os fatos
particulares na globalidade das ocorrências da situação.
Aprendizagem da leitura e da escrita
equivale a uma releitura do mundo. Ele parte da visão de um mundo em
aberto, isto é, a ser transformado em diversas direções pela ação dos
homens.
Paulo Freire atribui importância ao momento
pedagógico, mas com meios diferentes, como praxis social, como
construção de um mundo refletido com o povo.
Para Paulo Freire o diálogo é o elemento
chave onde o professor e aluno sejam sujeitos atuantes. Sendo estabelecido o
diálogo processar-se-á a conscientização porque:
a. é
horizontalidade, igualdade em que todos procuram pensar e agir criticamente;
b. parte da
linguagem comum que exprime o pensamento que é sempre um pensar a partir de uma
realidade concreta. A linguagem comum é captada no próprio meio onde vai ser
executada a sua ação pedagógica;
c. funda-se no amor
que busca a síntese das reflexões e das ações de elite versus povo e não a
conquista, a dominação de um pelo outro;
d. exige humildade,
colocando-se elite em igualdade com o povo para aprender e ensinar, porque
percebe que todos os sujeitos do diálogo sabem e ignoram sempre, sem nunca
chegar ao ponto do saber absoluto, como jamais se encontram na absoluta
ignorância;
e. traduz a fé na
historicidade de todos os homens como construtores do mundo;
f. implica na
esperança de que nesse encontro pedagógico sejam vislumbrados meios de tornar o
amanhã melhor para todos e,
g. supõe paciência
de amadurecer com o povo, de modo que a reflexão e a ação sejam realmente
sínteses elaboradas com o povo.
Técnicas de
Preparação de Material de Alfabetização
Codificações, palavras geradoras, cartazes
com as famílias fonêmicas, quadros ou fichas de descoberta e material
complementar estão presentes na sua pedagogia.
Na pedagogia de Paulo Freire há uma equipe
de profissionais e elementos da comunidade que se vai alfabetizar, para
preparação do material, obedecendo os seguintes passos:
a. levantar o
pensamento-linguagem a partir da realidade concreta;
b. elaborar
codificações específicas para cada comunidade, a fim de perceber aquela
realidade e,
c. dessa realidade
destaca-se e escolhe as palavras geradoras.
Todo material trabalhado é síntese das
visões de mundo educadores/educando.
No método de Paulo Freire, a palavra
geradora era subtraída do universo vivencial do alfabetizando. Em Paulo Freire a
educação é conscientização. É reflexão rigorosa e conjunta sobre a realidade em
que se vive, de onde surgirá o projeto de ação. A palavra geradora
era pesquisada com os alunos. Assim, para o camponês, as palavras geradoras
poderiam ser enxada, terra, colheita, etc.; para o operário poderia ser tijolo,
cimento, obra, etc.; para o mecânico poderiam ser outras e assim por diante.
O livro referenciado abaixo, de Lauro de
Oliveira Lima, traz uma explicação minuciosa do que é a prática do método de
alfabetização de Paulo Freire.
LIMA, Lauro de Oliveira. Tecnologia, educação e democracia. 2. ed. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. 202 p.
Bibliografia
sobre a obra de Paulo Freire:
FREIRE, Paulo. Educação
como prática da liberdade. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1975. 150 p.
_______. Pedagogia do oprimido. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
1975. 218 p.
_______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1998. 165 p. (Coleção Leitura).
FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. 7.
ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1997. 234 p.
GADOTTI, Moacir. Convite à leitura de Paulo Freire. São Paulo: Scipione
1989. 175 p. (Pensamento e Ação no Magistério).
Endereços
sobre a obra de Paulo Freire na Internet: