Feiticeiras de araque
Fui
uma criança extramente arteira, daquelas que a mãe pegava o chinelo do pé e
sapecava no bumbum. Só que vou contar de uma diabrura que não fiz sozinha, as autoras
do projeto: eu com cerca de oito anos e minha irmã mais velha que uns cinco
anos de idade.Fizemos uma brincadeira que estremeceu muitos adultos da
vizinhaça, um feitiço de araque.
Morávamos em um vila de casas
geminadas, simples, parecia mais um cortiço, pois todos sabiam da vida dos
outros, e aí os comentários eram os mais variados possíveis. No verão, em dia
de lua cheia passeávamos pelos arredores, as mulheres mais velhas trocando
confidências ou falando da vida dos outros, e as crianças corriam, brincavam de
pique esconde, de passar anel e tudo que tínhamos direito sob ás vistas atentas
das mamães.
Mas um dia depois de termos vistos
todos da nossa casa deitados, eu e minha irmã mais velha, resolvemos inventar
uma travessura inédita. Pegamos papel do caderno de desenho e começamos a
rabiscar com lápis de cor, como já tínhamos vistos estes trabalhos de
encruzilhada, usamos a cor vermelha, preta e azul e rabiscamos de folhas de papel, com direito a
estrela e escrita esquisita. Depois fuçamos uns guardados da mamãe e achamos
uma moedas de tostão, toco de velas usadas lá de casa, ovos e fitas. Esperamos
ficar bem tarde e colocamos em três lugares diferentes, em casas de pessoas que
não falavam umas com as outras. Voltamos para casa, pé ante pé e fomos dormir.
Quando acordamos no outro dia parecia
que o Bin Laden tinha detonado uma bomba naquele lugarejo. Um alvoroço só.
Alguns conseguiram encontrar nomes naqueles rabiscos e iam levar ao rezador
para descobrir quem fez aquele “trabalho”. Foi um pandemônio. Nesse momento
surge a nossa mãe com cara de furiosa, pelo menos pra gente, e disse que havia
ouvido tudo o que fizemos e sabia que nós éramos responsáveis por toda aquela
confusão. Incrível; ela não bateu na gente, mas ordenou que ficássemos o dia
inteiro dentro de casa. E claro que ficamos, pois o barulho que vinha da rua
nos amedrontou. Uma monte de adultos aturdidos por uma brincadeira de criança. Levando
o dia inteiro para a “poeira baixar” e os vizinhos se acalmarem.
O caso ficou em segredo absoluto e só
agora, tenho a liberdade de contar o que fizemos. Posteriormente, já na nossa
juventude, nossa mãe disse que estava achando tudo muito engraçado, mas tinha
que manter a sua autoridade. Foi uma travessura e tanto. Esta é uma história
que vou contar para os meus netos.
Tânia Maria da Silva
Brincadeiras que nã omagoaram ninguém . Na altura pode assustar, depois ficam as memórias engraçadas.
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