terça-feira, 17 de abril de 2012

Resgate de Identidade & Multiculturalismo



Como educar para o resgate de identidade e autonomia respeitando as diferenças do discente?

INTRODUÇÃO
Estamos em uma época em se propaga muito a inclusão educacional e social no Brasil, onde a mídia se encarrega com um discurso vazio, de  que o preconceito em nosso país está sendo combatido. Porém, na contramão deste discurso podemos perceber claramente na publicidade, raras exceções, que as ditas minorias não constam como público alvo da maioria das empresas, sendo que o preconceito  está acontecendo sob nossas vistas no cotidiano e na maioria das vezes ficamos de “braços cruzados”. Quando abordamos este tipo de ignorância, que é conceituar uma pessoa, situação, doença, comportamento, religião, etnia, entre outros, se nos aprofundarmos no assunto veremos que as cometemos quase que diariamente.

            E é se aproveitando da ignorância é que alguns grupos ou pessoas nos acorrentam o livre pensamento para que absorvamos suas idéias a respeito de algo ou alguém. E acontece tão sutilmente que nem percebemos, pois nos falta conhecimentos de nossas raízes, comportamentos sexuais, desconhecimento do próprio corpo, do
nosso mundo interior, exterior, prevenção de doenças e outros tantos que podemos relacionar. Aproveitando  o ditado popular: “em terra de cego quem tem olho é rei”, podemos perceber que para iluminarmos as nossas mentes, precisamos de conhecimento. Trabalho este em devemos nos engajar para a vida inteira, já que o mundo está sempre mudando e a vida é dinâmica; o maior prazer para um docente deveria ser sempre procurar mais e mais conhecimentos, e adaptá-los aos seu dia-a-dia.
            Toda essa mudança na educação é possível, mas para formarmos cidadãos é necessário amor à causa, tendo  consciência de o futuro está também e principalmente em nossas mãos. Pois para se resgatar identidades é necessário muito mais que um belo discurso; é preciso respeito às diferenças, exemplo na vida prática e muita humildade para caminhar ao lado do aluno, para que ele conquiste a sua autonomia verdadeira. Temos que ter muito  claro, qual é o nosso ideal. Queremos um mundo melhor? Como podemos trabalhar com pessoas com suas singularidades e respeitarmos as diferenças?  Creio que ao logo de nossas vidas, conseguiremos encontrar caminhos viáveis para chegarmos perto das respostas.
            Nós, brasileiros, dito país em desenvolvimento, temos um sério problema educacional a resolver, dada a nossa colonização, modelos educacionais importados da Europa e que em dados momentos não se adequando aos nossos hábitos populares foram adotados. Seguido de um cultura puramente elitista e voltada para o mercado, onde ainda imitamos os outros países, que nada têm em comum com o nosso. Os veículo de massa todos os dias teclam na cabeça do sujeito, com os ditames da mídia a serviço do Capitalismo, tudo o que devemos fazer. Fala-se muito em paz no mundo, porém se ligarmos a TV na hora das refeições, além do prato que estaríamos degustando, engolimos tudo o que vemos e que ouvimos, e são muitos cadáveres, balas perdidas e toda sorte de desgraça. É este mundo cão que queremos preservar? Penso que não, e para isso é bom que estejamos sempre atentos com os olhos de OLHAR e os ouvidos de OUVIR verdadeiramente.

Tânia Maria da Silva



1.2 Identidade em contexto multicultural

            A identidade do indivíduo está em constante processo de reconstrução; podendo ser mudada de acordo com o contexto.. E através dos tempos, com muita luta por parte de alguns sub-julgados, que no mundo evoluem, como homens que se atrevem a escrever e mudar a sua própria história e a de seus pares. Desde o início da vida em sociedade da raça humana na terra, onde se lutava cotidianamente pela sobrevivência e perpetuação da espécie, passando pela dominação dos grandes Impérios sobre outros povos, até o momento atual, em que  se continua na “ARENA”, na condição de expectador,  ou dentro, mas, sempre dentro dos alambrados  lutando com trogloditas ou sendo refém de “animais perigosos”. É o que se vê hoje no mundo; constante ebulição social em alguns países orientais, com uma aparente trégua nos países ditos em desenvolvimento.Mas, por trás de todo este cenário montado pelo Imperialismo para continuar explorando os países “mais pobres”, que estranhamente “despertam um interesse  descomunal nos mais ricos”, ainda percebe-se que os primeiros apesar de importarem comportamentos, ainda têm, mesmo que “invisível,” um de subalterna  rastro de soberania.
           
            Desse modo o sujeito, queira ou não, apesar da mídia constantemente apregoar-lhe espírito de bando, é forçado a pensar no seu papel na sociedade, voltando às suas raízes e cada vez mais procurando identidade própria. O grande problema é identificar, pois estamos a todo momento trocando informações e processando sem saber ao certo se são íntimas, produto de reflexão, ou se são absorvidas pelo meio e tomadas como pessoal. Na verdade ter identidade significa saber de onde se veio, onde se encontra agora, e traçar objetivos para o futuro sem a pretensão de ser o detentor da verdade, tendo em mente o processo de constante reconstrução, respeitando a autonomia dos outros.
            Observando a história, veremos os vencidos e vencedores sempre; com  o estigma que carregamos ainda hoje da competição diária em todos os setores da vida mostrando como a sociedade ainda carrega instintos selvagens. No Brasil ainda vemos os fortes resquícios de uma aculturação vertical, imposta pelos brancos, que ainda hoje, com algumas exceções, sentem-se superiores e no cume da pirâmide social. Se antes era pela força, hoje vemos na mídia imagens, comportamentos, ditando a moda e outros movimentos para assediar os incautos.
            Em passado bem próximo, o índio brasileiro viu a sua casa ser invadida,  sendo espoliada por interesses estranhos; o negro sendo removido de sua terra natal e arrastado aos porões de navios que lhe ditavam a sorte.Aos rebeldes o destino era a morte e aos que capitularam restou o ecoar das chibatadas constantes, restando pouco a fazer, a não ser a cultivar a identidade dentro da senzala, enganando aos brancos com seus cultos e danças, que se tornou uma forma de resistência.
            Com toda essa tirania por parte de quem detinha o poder, as culturas tribais foram negadas e relegadas à sarjeta, restando ao povo alienação e a ignorância quanto às riquezas culturais Afro e Indígenas em nosso país. Sendo estes, considerados cidadãos de segunda classe, sem direito às raízes históricas, pois a versão oficial foi a do conquistador. História que vêm mudando a passo de tartaruga, mas que já tem alcançado um lugar de destaque nas consciências.
           




Terra- passado literalmente negro e um futuro a se configurar



Como um educador pode abordar o assunto, inserção, em turmas heterogêneas na sala de aula em pleno século XXI? Como falar para uma criança sobre a barbárie que assolou o planeta? Com livros oficiais de história? Seria suficiente? Por que ao som de um atabaque treme-se de medo e pensa-se logo em macumba? Por que ainda vemos a ignorância comparar bagunça generalizada com coisa de índio? Temos de repensar nosso mundo, nosso país, nossa gente.
            Dentro desse contexto cultural podemos observar o discurso de do grande Educador Paulo Freire no sentido de dar nomes às injustiças que ainda são praticadas por muitos docentes. Ele diz; “... È preciso deixar claro que a transgressão da eticidade jamais pode ser vista ou entendida como virtude: que alguém se torne machista, racista, classista, sei lá o quê, mas se assuma como transgressor da natureza humana. Não me venhas com justificativas genéticas, históricas ou filosóficas para explicar a superioridade da branquitude sobre a negritude, dos homens sobre as mulheres, dos patrões sobre os empregados. Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela um dever por mais que se reconheça a força dos condicionamentos a enfrentar. A boniteza de ser gente se acha, entre outras coisas, nessa possibilidade e nesse dever de brigar...”
           
O filósofo e teólogo, Leonardo Boff, relata em seu livro, A águia e a Galinha, a história do povo de Gana, país Africano, que teve como líder, um político e educador popular, chamado James Aggrey. Sua atuação foi imprescindível na época em que o povo africano, na era colonização era disputado por países como Portugal e Inglaterra. James fortaleceu significativamente à forte consciência de ancestralidade alimentada pelo seu povo. Um sentimento de amor às raízes culturais que se opunha a todo o massacre da colonização estrangeira, que considerava essa população como “zero econômicos”, muito embora tivessem um grande interesse em seu território e na exploração de sua força de trabalho. Processo semelhante também ocorreu no século XVI com os indígenas da Amperica e com os subjulgados da Ásia.

            Segundo James “...Libertação significa ação que liberta a liberdade cativa. É só pela libertação que os oprimidos resgatam a auto estima. Refazem a identidade negada. Reconquistam a pátria dominada, e podem construir uma história autônoma, associada à história de outros povos livres...” Porém James Aggrey, que faleceu antes de ver o seu país liberto, deixou seu legado e em 6 de março de 1957, N”Krumah e seu partido junto com o povo, conseguiram a independência da Ingleterra voltando o país a se chamar Gana em vez de Costa D Ouro como queriam os invasores.. Hoje a Nação conquistou inúmeras vitórias, e segundo Boff: “ ...Se aplicarem os ideais de James Agrey, consolidarão sua identidade e autonomia. E avançarão pouco a pouco no sentido de um concidadania participativa e solidária.”
           
           




Outra identidade que foi perseguida, espoliada, enganada, violentada, mal interpretada, foi a dos índios em todo o mundo, pois além de perderam a sua identidade ainda tinha de se sujeitarem a ser escravos dentro de sua própria terra. Eram dominados sob pretexto de serem incultos, rebeldes e perigosos entre outros atributos por parte da superioridade branca. No Brasil, a história de nossos silvícolas se confunde e se perde com a história oficiais onde várias tribos foram dizimadas quando consideradas “agressivas”, ou pacificada pela Igreja Católica que “gentilmente” catequisa nossos ancestrais a título de retomarem a sua alma. O fato é que nos anos de pacificação dos silvícolas, muita aberrações foram cometida em nome de Deus e do bom senso.

            Darcy Ribeiro, nos fala sobre a tribo dos Urubus (significa moradores da mata): “Pouco mais de 25 anos de convívio pacífico custaram aos índios Urubus cerca de dois terços de sua população, vitimada, já não por trabucos, mas pelas epidemias de gripe, sarampo, coqueluche e outras moléstias que assolaram suas aldeia. Hoje eles estão tomando consciência do preço que custaram as ferramentas, miçangas e os poucos outros bens que obtiveram dos civilizados, e voltaram-se para o passado, que recordam como o bom tempo das grandes aldeias cheias de gente, dos roçados enormes e fartos, da alegria de viver que se vai esgotando.”

           

























1.5 Os heróis e os malditos

Segundo o livro de Eduardo Galeano,  “dentro de alguns atletas habita uma multidão. Nos anos quarenta, quando os negros norte-americanos não podiam partilhar com os brancos nem mesmo o cemitério, Jack Robinson se impôs no beisebol. Milhões de negros pisoteados recuperaram sua dignidade através desse atleta que, como nenhum outro, brilhava num esporte que era exclusivo parta os brancos. O público o insultava, atirava-lhe amendoim, os rivais cuspiam nele e, em casa Robinson recebia ameaças de morte.
           Em 1996, enquanto o mundo aclamava Nelson Mandela e sua longa luta contra o racismo, o atleta Josiah Thugwane se tornava o primeiro negro sul-africano a vencer numa olimpíada. Nos últimos anos, passou a ser normal que troféus olímpicos sejam conquistados por atletas de países com Quênia, Etiópia, Somália, Burundi ou África do Sul. Tiger Woods, chamado o Mozart do golfe, vem triunfando num esporte de brancos ricos. E já faz muitos anos que são negros os astros do basquete e do boxe. São negros, ou mulatos, os jogadores que mais alegria e beleza dão ao futebol.
          Segundo o dúplice discurso racista, é perfeitamente possível aplaudir os negros de sucesso e maldizer os demais. Na copa do Mundo de 98, vencida pela França, eram imigrantes quase todos os jogadores que vestiam a camisa azul e iniciavam as partidas ao som da Marselhesa. Uma pesquisa realizada na época confirmou que, de cada dez franceses, quatro têm preconceitos raciais, mas todos os franceses comemoram o triunfo como se os negros e os árabes fossem filhos de Joana d’Arc.






Assim se prova que os índios são inferiores
(Segundo os conquistadores dos séculos dezesseis e dezessete)

          Suicidam-se os índios das ilhas do Mar do Caribe?
Porque são vadios e não querem trabalhar.
           Andam desnudos, como se o corpo todo fosse a cara? Porque os selvagens não têm pudor.
           Ignoram o direito de propriedade, tudo compartilham e não têm ambição de riqueza? Porque são mais parentes do macaco do que do homem.
           Banham-se com suspeitosa freqüência? Porque se parecem com os hereges da seita de Maomé, que com justiça ardem nas fogueiras da Inquisição.
          Acreditam nos sonhos e lhes obedecem as vozes? Por influência de Satã ou por crassa ignorância.
          É livre o homossexualismo? A virgindade não tem importância alguma? Porque são promíscuos e vivem na ante-sala do inferno.
          Jamais batem nas crianças e as deixam viver livremente? Porque são incapazes de castigar e de ensinar.
          Comem quando têm fome e não quando é hora de comer? Porque são incapazes de  dominar seus instintos.
           Adoram a natureza, considerando-a mãe, e acreditam que ela é sagrada? Porque são incapazes de ter religião e só podem professar a idolatria”.


Assim se prova que os negros são inferiores
                                                                                               

(segundo os pensadores dos séculos dezoito e dezenove).
            Voltaire, escritor anticlerical, advogado da tolerância e da razão: os negros são inferiores aos europeus, mas superiores aos macacos.
            Karl Von Linneo, classificador de plantas e animais: O negro é vagabundo, preguiçoso, negligente, indolente e de costumes dissolutos.
            David Hume, entendido em entendimento humano: O negro pode desenvelver certas habilidades próprias das pessoas, assim como o papagaio consegue articular certas palavras.
            Etienne Serres, sábio em anatomia: Os negros estão condenados ao primitivismo porque tem pouca distância entre o umbigo e o pênis.
           Francis Galton, pai da eugenia, método cientifico para impedir a propagação dos ineptos: Assim como um crocodilo jamais poderá chegar a ser uma gazela, um negro jamais poderá chegar a ser um membro da classe média.
           Louis Agassiz, eminente zoólogo: O cérebro de um negro adulto equivale ao de um feto branco de sete meses: o desenvolvimento do cérebro é bloqueado porque o crânio do negro se fecha muito antes do que o crânio do branco”.



           

              

Bibliografia:
FREIRE, Paulo, Pedagogia da Autonomia”, Pedagogia do Oprimido” – Paz e Terra – 1996
GALEANO, Eduardo, “ A escola do mundo pelo Avesso”,  Porto Alegre – L&PM Editores – 2009 –
BOFF,Leonardo, “ A Águia e a Galinha”,  vozes, Petrópolis, RJ, 2009






















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