Biografia de Carl Rogers
Por Alexandre Pedrassoli
O homem sempre se esforça para ter tensões, ao invés de procurar reduzi-las. Acho que há muitas evidências, agora, de que isso é verdade. A esse esforço, no homem, chamamos de curiosidade. (Rogers, In: Evans, R. Carl Rogers: o homem e suas ideias, p. 40)
Carl Rogers nasceu no dia 8 de Janeiro de 1902, em Oak Park, nos arredores de Chicago. Os pais de Rogers vinham de uma cultura protestante moralmente rígida, um tanto conservadora e bastante fixada em valores tradicionais. Tanto o pai como a mãe tinham formação universitária e estimulavam uma atmosfera intelectual na família.
Rogers foi sempre um aluno brilhante e muito interessado pelo conhecimento. No entanto, conseguia sempre colaborar nos trabalhos do dia-a-dia da família. Sua rede de relacionamentos fora da família era muito restrita, pois a família valorizava muito o trabalho físico e intelectual, o que não deixava muito tempo para atividades de lazer. Rogers concentrava-se então em leituras, preferencialmente de caráter religioso.
Aos 12 anos, Rogers e sua família mudam-se para uma nova residência nos arredores de Chicago, onde há terra suficiente para iniciar uma atividade agrícola. Em consequência dessa atividade, Rogers matricula-se, em 1919, no curso de Agronomia da Universidade de Wisconsin. Já nos primeiros anos, envolve-se em atividades comunitárias, onde começam a aparecer seus talentos de facilitador e organizador. Decide então mudar para o curso de História, com a intenção de seguir mais tarde a carreira religiosa.
Em 1922, Rogers passa seis meses na China, passando também pelo Japão e Coreia, para o Congresso da Federação Mundial dos Estudantes Cristãos. O contato com a cultura oriental e com o pensamento budista faz com que Rogers reveja suas convicções religiosas. Mantém, entretanto, sua intenção de seguir na vida pastoral.
Em 1924, termina a faculdade de História. No mesmo ano, casa-se com Hellen Elliot, uma amiga de infância, com quem posteriormente teve dois filhos, chamados David Elliott Rogers (1926) e Natalie Rogers (1928).
Rogers matricula-se no Seminário da União Teológica em Nova Iorque, uma instituição com ambiente bem menos conservador do que o que sua família desejara. Frequenta alguns cursos na faculdade de Psicologia dessa instituição, onde conhece os psicólogos Goodwin Watson e William Kilpatrick, com os quais bastante se impressiona. No segundo ano, toma consciência de sua falta de vocação para a carreira religiosa e transfere-se para o curso de Psicologia do Teachers’ College da Universidade de Columbia. Nessa época, é bastante influenciado pela filosofia de John Dewey.
Em 1926 começa a trabalhar no Instituto de Aconselhamento Infantil (Institute for Child Guidance) em Nova Iorque, onde trava sua primeira batalha com a psiquiatria, para igualar seu salário com o dos psiquiatras.
Em 1928, doutora-se no Teachers’ College. Sua tese consistia na criação de um teste de personalidade para crianças. Nessa época, trabalhava como psicólogo na Sociedade para Prevenção de Crueldade Contra Crianças (Society for the Prevention of Cruelty to Children). A partir de 1929, dirige, durante 12 anos, o Centro de Observação e Orientação Infantil dessa Sociedade. Lá, conhece Otto Rank, por cuja prática terapêutica é influenciado. Conhece também Jessie Taft e seu livro de 1933, que Rogers considerou uma obra prima.
Em 1938, Rogers trava nova batalha com os psiquiatras. O Centro que ele já dirigia foi ampliado e a instituição queria eleger um psiquiatra como diretor, por tradição. Rogers consegue manter seu cargo como dirigente do Centro, tornando-se o primeiro psicólogo a ocupar essa posição. Seu primeiro livro surge em 1939: “O tratamento clínico da criança-problema”, onde apresenta suas pesquisas até então. A repercussão do livro faz com que ele passe a ser conhecido como psicólogo clínico.
Rogers desenvolve uma forma de psicoterapia cada vez menos diretiva, baseada mais na aceitação dos sentimentos do cliente pelo terapeuta, e menos na interpretação e no direcionamento. Assim surge a Terapia Centrada na Pessoa (ou Abordagem Centrada na Pessoa), sobre a qual Rogers afirma:
“Pode parecer absurdo alguém poder nomear o dia em
que a Terapia Centrada no Cliente nasceu. Contudo, eu sinto que é
possível nomeá-lo como sendo o dia 11 de Dezembro de 1940.”
De 1945 a 1957, Rogers tem um período muito rico em termos de produção científica, com muitas publicações. Seu livro de 1951, “Terapia Centrada do Cliente”, é um dos pontos altos dessa produção.No ano de 1961, Rogers publica o livro “Tornar-se pessoa”, que rapidamente transforma-se em um best-seller mundial. A partir dessa época, Rogers passa a investir cada vez mais no trabalho com grupos, ou “grupos de encontro”, como ele os denomina. O livro “Grupos de encontro“, publicado em 1970, foi apreciado tanto por profissionais como por leigos e rapidamente tornou-se um livro de consulta obrigatória na área.
A partir de 1972, dedica-se principalmente à reflexão sobre aspectos sociais e políticos, explorando as possibilidades criativas oferecidas pelos grupos de encontro. Dessas reflexões surge o livro “Poder Pessoal”, publicado em 1977.
Em 1985 Rogers atua como facilitador de um workshop na Áustria com 50 líderes internacionais para discutir, segundo o modelo dos grupos de encontro, as tensões políticas na América Central. Nos últimos anos de sua vida, Rogers investe cada vez mais em workshops de esforço pela paz, tanto que seu nome foi indicado em 1987 para o Prêmio Nobel da Paz.
Principalmente após a morte da esposa, em 1979, os últimos anos de Rogers foram marcados por um interesse pela dimensão espiritual do homem, pela transcendência e pela integração do homem com o universo. Valoriza, na terapia, a intuição e a “presença”, uma forma de comunicação com características transpessoais, que ele identifica como um “estado alterado de consciência”.
Rogers faleceu em La Jolla, na Califórnia, no dia 4 de Fevereiro de 1987, após uma fratura do colo do fêmur. Antes de falecer, permaneceu três dias em coma, quando então as máquinas que o mantinham vivo foram desligadas, de acordo com as instruções que ele mesmo deixara.
Para saber mais sobre a teoria de Carl Rogers, leia:
Linha do Tempo
1902 | Em 8 de janeiro, nasce Carl Ransom Rogers, em Oak Park, Illinois, EUA. |
1914 | Aos 12 anos de idade, muda-se com a família para uma fazenda |
1924 | Graduou-se na Universidade de Wisconsin |
1928 | Conclui o mestrado pela Universidade de Columbia |
1931 | Conclui o doutorado em Psicoterapia, pela Universidade de Columbia |
1940 | Passa a ocupar a cátedra de Psicologia na Universidade de Ohio |
1944 | Presidente da American Association for Applied Psychology (Associação Americana de Psicologia Aplicada) |
1945 | Torna-se professor de Psicologia na Universidade de Chicago e secretário executivo do Centro de Aconselhamento Terapêutico |
1946 | Presidente da American Psychological Association (Associação Americana de Psicologia) |
1957-1963 | Leciona Psicologia e Psiquiatria na Universidade de Wisconsin |
1987 | Carl Rogers morre em 4 de fevereiro, aos 85 anos, em La Jolla, California, EUA. |
Livros de Carl Rogers
1939 | O Tratamento Clínico da Criança-problema (The clinical treatment of the problem child) |
1942 | Psicoterapia e Consulta Psicológica (Counseling and Psychotherapy) |
1951 | Terapia Centrada no Cliente (Client-Centered Therapy) |
1961 | Tornar-se Pessoa (On Becoming a Person) |
1969 | Freedom to Learn |
1970 | Grupos de Encontro (On Encounter Groups) |
1977 | Sobre o Poder Pessoal (On Personal Power) |
1977 | A Pessoa Como Centro |
1980 | Um Jeito de Ser (A Way of Being) |
Referências Bibliográficas
CENTRO DE REFERÊNCIA EDUCACIONAL. Carl Rogers. Disponível em: <http://www.centrorefeducacional.com.br/carl.html>. Acesso em: 23 nov. 2007.
EVANS, Richard I. Carl Rogers: O homem e suas ideias. São Paulo: Martins Fontes, 1979.
FRICK, Willard B. Psicologia Humanista: Entrevistas com Maslow, Murphy e Rogers. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
HALL, Calvin S.; LINDZEY, Gardner. Teorias da Personalidade. São Paulo: EPU, 1984.
HIPÓLITO, João. Biografia de Carl Rogers. A pessoa como centro, n. 3, primavera-maio, 1999.
PERES, Teresinha. As Condições Facilitadoras de Rogers sob os Fundamentos Fenomenológicos Existenciais. Jornal Existencial Online. Disponível em: <http://www.existencialismo.org.br/jornalexistencial/teresinhapatia.htm>. Acesso em: 23 nov. 2007.
Tags: biografias, psicologia, psicologia humanista, Rogers, teóricos
Quem souber por favor me mande a resposta!
Grata!
Pena, não sei de que livro é essa frase. Quem sabe alguém te responde…
Obrigado pelo comentário. Um abraço
Gostaria de parabenizá-lo, e desejar que continue
contribuindo para a psicologia e para nós leitores.
Obrigado
Boa sorte em suas buscas. Um abraço.
Alexandre
agradeço o comentário e fico feliz que o texto lhe tenha sido útil.
Continue em sua busca.
Um abraço
Obrigado.
Um abraço
Obrigado pelo comentário. É bom saber que estamos sendo úteis.
Um abraço